sábado, 14 de novembro de 2009

Capítulo XIV: Por dentro dos ''de fora''

Em um mundo onde as pessoas perderam a individualidade graças aos mecanismos de uniformização implantados pela própria ordem social e agravado pelos interesses dos sistemas econômicos que tem a seu favor os meios de manipulação em massa é raro encontrar pessoas que ainda conseguem saber quem realmente são e que conseguem fugir das convenções sociais e criar seus próprios hábitos gostos virtudes e vícios, essas pessoas geralmente acabam ficando do lado de fora do fluxo de clones midiáticos produzidos em larga escala que falam as mesmas gírias ouvem as músicas top hits lêem somente os best sellers e só usam as roupas da moda, e pelo fato de não estarem incluídos nessa festa louca de clones são vistas como pessoas que estão vivendo em um mundo ilusório irreal e utópico mas na verdade o mundo real é aquele que poucos conseguem ver, esses raros que tem essa incrível ''habilidade'' são os ''de fora'' (em inglês outsiders).Algo curioso que ocorre é a tentativa da mídia em tentar criar outsiders, mas na real o que eles fazem é implantar nas pessoas um falso senso de individualidade e criatividade que será compartilhado por todos os clones midiáticos que graças à sua cegueira não enxergam que são todos iguais em forma e conteúdo.Um bom exemplo é a novelinha Malhação, a impressão que fica é que o roteirista escreveu um monólogo e depois distribuiu as falas entre vários personagens. Não há diferenciação de personalidade. Todos falam as mesmas coisas, do mesmo jeito e usando as mesmas expressões. Em resumo: fique igual e permaneça legal, outro exemplo seria um comercial de uma bebida à base de soja que foi veiculado na mídia televisiva à alguns anos onde um homem de terno e com uma caixa de som no lugar da cabeça ficava em um helicóptero dizendo quais eram as coisas que estavam na moda (coisas absurdas como peixe com chocolate e alho) e abaixo dele uma legião de pessoas brigando entre si para conseguirem os produtos que o cara de terno dizia estarem na moda, em outro plano também acima dessa multidão estava um homem na janela de seu apartamento com um frasco da bebida à base de soja e rindo de toda aquela confusão causada pela falta de individualidade, ao mesmo tempo o narrador dizia algo mais ou menos assim: ''seja diferente beba leite de soja da marca X'' (não lembro o nome da marca se não me engano é ades), mas repare que ao mesmo tempo que o comercial mostra como é ridículo o fato das pessoas não terem consciência de que são controladas por um ser elevado (no caso do comercial o ser elevado era a mídia o que fica claro pela caixa de som no lugar da cabeça do cara de terno que ditava as regras remetendo aos meios de comunicação) que implanta nelas uma personalidade pré fabricada o comercial exerce a mesma função ditando para os espectadores uma forma de ser diferente mas que na verdade leva a uma comunhão da mesma idéia artificial mostrada no próprio comercial, esse fato é engraçado para quem consegue enxergá-lo mas ao mesmo tempo é torturante ver toda essa multidão sem alma, sem vontade sem personalidade consequentemente infelizes já que a felicidade plena só é atingida apartir da auto construção da personalidade, fica fácil entender esse drama pelo qual os ''de fora'' passam ao assistir o filme Equillibrium onde o protagonista John Preston vive em uma sociedade onde os sentimentos e a capacidade de criação são contidos através da ingestão obrigatória de drogas depressoras de tais faculdades mentais, quando Preston , devido uma serie de acontecimentos, passa a não ingerir mais as drogas volta a ter sentimentos e vontade própria e percebe que todo aquele sistema que havia sido implantado para proteger as pessoas na verdade as havia matado a muito tempo já que essas haviam se tornado somente espectros ambulantes que atendiam às ordem de um superior ,chamado ''Pai'', e sem questionar nem exitar essas pessoas atendiam a todas as suas ordens, percebe-se que quando Preston passa a enxergar a verdade sórdida por trás dos discursos falacianos do Pai e das medidas tomadas pelo mesmo, Preston passa a sentir nojo de tudo aquilo sente-se envergonhado por viver em um lugar como aquele e começa um caminho perigos para mostrar para todos os outros a verdade que ele conseguiu enxergar nota-se ai uma intertextualidade muito interessante com o mito da caverna de Platão onde as pessoas nascem e são acorrentadas umas nas outras no fundo de uma caverna onde a única imagem que tem desde o nascimento é somente a de suas sommbras no fundo da parede e quando uma dessas pessoas consegue sair da caverna e ver o mundo real ela torna-se um ''de fora'' que tenta avisar as pessoas sobre a mentira que estão vivendo mas elas preferem continuar com sua protofelicidade baseada na mentira do que viver a felicidade plena através da verdade pois já estavam habituadas com o que lhes tinha sido pregado e não lhes era conveniente ''andar com as
próprias pernas''.


A cena acima mostra o exato momento em que John Preston retoma sua consciência e retira as películas que encobriam as janelas obstruindo a visão panorâmica da cidade como forma de conter ainda mais a emoção das pessoas, ao retirar essa película é como se Preston retirasse as vendas dos olhos e voltasse a enxergar novamente ao mesmo tempo se sente só pois sabe que mais ninguém compartilha essa sensação com ele e triste pois sabe que todos ainda estão usando suas vendas.E essa sensação de viver em mundo onde ninguém mais vive trás uma sensação muito grande de solidão e isolamento já que pouquíssimas pessoas compartilham essas mesmas visões de mundo e conseguem ver a verdade oculta nas coisas essa sensação é muito bem descrita pela música Exército de um Homem Sò (Engenheiros do Hawaii):

(...)

Não importam se só tocam
o primeiro verso da canção
a gente escreve o resto
sem muita pressa
com muita precisãonos interessa o que não foi impresso
e continua sendo escrito à mão
escrito à luz de velas
quase na escuridão
longe da multidão

(...)

Não importa se só tocam
o primeiro acorde da canção
a gente escreve o resto
e o resto é restoé falsificação
é sangue falso, bang-bang italiano
suíngue falso, turista americano
livres dessa estória
a nossa trajetória não precisa explicação
(e não tem explicação)

Somos um exército(o exército de um homem só)
no difícil exercício de viver em paz
somos um exército
(o exército de um homem só)
sem bandeira,
sem fronteiras para defender,pra defender...

Não interessa o bom senso diz
não interessa o que diz o rei
(se no jogo não há juiz
não há jogada fora da lei)
não interessa o que diz o ditado
não interessa o que o estado diznós falamos outra língua
moramos em outro país

(...)

A confirmação de tudo isso que foi dito acima pode ser vista frequentemente em programas televisivos como o Famous Face onde uma maluca coloca na cabeça que quer ficar idêntica à Jeniffer Lopez ou com a Britney Spears e tal estupidez é incentivada. Em resumo, a transformação é filmada e testemunhamos a verdadeira frankesteinização sofrida pela pobre cega e iludida pelo processo de uniformização. Ela se submete à operação plástica, lipoaspiração e o caralho ao fim ela já não é mais ela, perdeu sua identidade sua personalidade sua própria vontade através das constantes lavagens cerebrais às quais foi submetida desde pequena que é quando começam a vomitar nas pessoas todos os conceitos de beleza etiqueta comportamento iniciando assim o processo de uniformização como se cada criança fosse um produto em uma linha de montagem...

...e ao fim da transformação perde também sua face pronto ,ela já não é mais ela mas também não é Britney, nem Lopes, ela se torna um nada mas que passa ser venerado como ídolo em meio aos que também são ou estão se tornando um nada. Chega a ser nojento. Eu não entendo qual é a de um programa como esse. Será que a indústria da cirurgia plástica tá precisando de uma forcinha? Eu duvido. Nunca vi se falar tanto em botox, silicone, lipo e outras merdas. Todo mundo tentando evitar o inevitável para ficar sempre com a mesma face adotada como modelo de beleza padrão da sociedade. Todo mundo querendo retardar o tempo incontrastável. Quando você começa a perceber todo esse genocídio de individualidade culminando na perca total e em massa da personalidade o descontentamento com o mundo torna-se inevitável então "você não quer mais ganhar o jogo, quer quebrar o tabuleiro; você não quer mais chegar até o fim, você quer fazer barulho; você não mais quer o amor, você quer tudo; você não mais quer morrer, você quer nunca ter existido; e passa a perceber que não somos uma geração perdida mas uma geração que perdeu'' (trecho extraído do Manifesto Cordialista)Vivemos cada vez mais em uma gigantesca e apavorante Ilha do Dr. Mureau. Foda-se Dorian Gray. Eu sou bem mais as rugas de Charles Bukowski.

encerro o capítulo XVI ao som de DESAPEGO de MOPTOP

Nenhum comentário:

Postar um comentário